terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Sombra de Heidegger - José Pablo Feinmann

Em 1933, Hitler chegou ao poder na Alemanha com amplo apoio popular e intelectual (quer dizer, dos intelectuais que não estavam mortos, exilados ou aterrorizados em silêncio), tendo como entusiasta crucial (e surpreendente) Martin Heidegger, talvez o filósofo mais importante do século XX. Neste mesmo ano, o ídolo maior do pensamento alemão vivo naquele tempo aderiu integralmente ao nazismo - visto por ele como a única solução para a situação alemã -, tornou-se reitor da universidade de Freiburg e proferiu um discurso avassalador conclamando a intelectualidade de seu país a seguir seus passos. Meses depois, ciente da perseguição a professores judeus, abandonou o cargo, mas sua forte influência já havia tocado a mente de milhões de alemães que aderiram à loucura coletiva que desencadeou a II Guerra Mundial.

Aproveitando este ótimo cenário histórico, José Pablo Feinmann juntou personagens reais e ficcionais para discutir a relação entre filosofia e política em "A Sombra de Heidegger". O filósofo Dieter Müller narra, através de uma carta a seu filho, os acontecimentos que determinaram sua adesão ao partido nazista sob influência de seu mestre Heidegger e seu posterior arrependimento e exílio na Argentina, onde vive Martin Müller, o filho batizado em homenagem ao mestre. A segunda parte do livro é narrada pelo próprio Martin Müller através de suas impressões sobre a história do pai. Ambas narrações em primeira pessoa, diferem-se pelo estilo e linguajar de gerações diferentes criadas em países distintos.

"A Sombra de Heidegger" é um livro bastante interessante, ao mesmo tempo um passeio pela filosofia de Heidegger e de boa parte dos séculos XIX e XX e um julgamento histórico sobre a controversa adesão do filósofo ao nazismo. Algumas pessoas que tiveram relação direta com Heidegger estão representadas no livro, como Hannah Arendt e Jean-Paul Sarte, e muitas ideias filosóficas são discutidas, como as de Nietzsche, Marx e Hegel, portanto é bom ter noções básicas de história da filosofia antes de começar essa leitura, mas creio que pessoas sem nenhum conhecimento na área não serão impedidas de entender a história, apenas aproveitarão menos, da mesma forma que alguém com conhecimentos básicos deve aproveitar menos que um doutor em metafísica. Independente do nível de conhecimento filosófico do leitor, é certo que, para quem gostar do livro, surgirá naturalmente após a última página um estímulo e interesse para conhecer melhor a filosofia.

José Pablo Feinmann é um filósofo argentino que, além de romances filosóficos, escreve livros de filosofia propriamente dita e dá cursos. Alguns personagens de outros de seus romances aparecem nesse.

Editora: Planeta
Páginas: 197
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

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