terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Homem Invisível - H.G. Wells


O que você faria se pudesse tornar-se invisível? Pode parecer uma questão tola, uma fantasia infantil, mas na verdade é um ponto filosófico interessante, abordado já por Platão em A República, sobre o que o poder pode fazer com a integridade moral dos homens - o mito do anel de Giges, no qual um pastor descobre um anel que o torna invisível, e em posse deste poder, toma o lugar do rei. Baseado nesta reflexão do filósofo grego, Herbert George Wells desenvolveu O Homem Invisível, uma ficção que, além de discutir este aspecto moral, apresentou para os leitores do século XIX questões científicas muito interessantes, que não perderam seu encanto para mentes do século XXI - Que bases físicas permitiriam a invisibilidade? Qual seria a reação de um cachorro frente a um homem invisível? O que aconteceria se este homem engolisse algo ou derramasse alguma substância sobre sua pele?

Ora, independente da moral da pessoa, qualquer um deve achar que seria fabuloso poder tornar-se invisível. Uma pessoa má certamente tentaria levar vantagens pessoais, como o pastor da história de Platão, e uma pessoa boa poderia tentar sanar males da sociedade e lutar pela justiça, como um super-herói, mas o fato é que em todas as histórias em que tal suposição foi abordada - desde Giges até O Senhor dos Anéis, outra cria de Platão -, a ideia era que o poder da invisibilidade fosse reversível, podendo seu possuidor voltar à forma visível e manter uma vida normal. O Homem Invisível de H.G. Wells diferencia-se de todos os outros pelo fato de não possuir essa faculdade. O cientista Griffin desenvolve uma fórmula que torna qualquer ser invisível e, vítima de seu próprio orgulho, utiliza o invento em si mesmo, mas não consegue voltar à sua antiga forma. Em princípio o cientista fica eufórico com todas as possibilidades abertas para si, mas com o tempo ele percebe os diversos empecilhos criados por causa de sua situação peculiar, levando-o à loucura. Desenvolve-se então uma trama com ingredientes de suspense, terror, ficção científica e até um pouco de humor, numa narração em terceira pessoa típica da literatura fantástica do século XIX, onde o autor coloca-se de certa forma como cúmplice do leitor, como se não fosse onisciente e tivesse o mesmo tipo de conhecimento dos outros personagens (visto no trecho "No correr da noite, possivelmente, comeu e dormiu"), o que talvez mexesse mais com a curiosidade dos leitores de então, assim como o uso de pontuações que excitassem sua imaginação ("Seriam passos o que ouvia atrás dele? Mais depressa!").

O Homem Invisível é um livro divertido, sem muita genialidade em seu roteiro, mas com o mérito da criação de uma fantasia original e intrigante até hoje. Imagine o homem invisível querendo ser visível para poder conviver com relativa normalidade com os outros - cobertura total de todas as partes de seu corpo, pois a menor brecha poderia expor sua invisibilidade e fazer com que as pessoas achassem que se tratava de um fantasma. Por outro lado, se ele quisesse aproveitar-se de sua condição, teria que andar totalmente nu, suportando o frio da Inglaterra, onde ocorre a história, e teria que tomar diversos cuidados, como não andar na chuva (já que a água formaria uma silhueta que o denunciaria). Toda essas divagações tornaram O Homem Invisível um clássico indispensável para os amantes da litertura fantástica, bem como H.G. Wells, ao lado de Júlio Verne, um dos pais da ficção científica. Além desse livro, Wells escreveu outros clássicos como A Máquina do Tempo e Guerra dos Mundos.

Editora: várias
Páginas: cerca de 200
Disponibilidade: esgotado
Avaliação: * * * *

Livro Digital

Nota: Existe um filme de 1992 chamado "Memórias de um Homem Invisível", com Chevy Chase, uma leitura moderna da obra, onde o protagonista é caçado pelo governo americano para se tornar um espião. Divertido.

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