quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Marx sem ismos - Francisco Fernandez Buey


Marx criou idéias revolucionárias a respeito do capitalismo e da questão da riqueza no mundo, mas num certo ponto de sua vida chegou a admitir: “eu não sou marxista”. Não que depois de velho ele tenha se cansado de tudo aquilo, a famosa frase só nos mostra que, ainda com o rebelde vivo, seu pensamento foi modificado a tal ponto que nem ele mesmo concordava com o que diziam sobre seus escritos presentes em “O Capital” ou “Manifesto Comunista”, o que dirá se ele tivesse conhecido Stalin ou Mao. Francisco Fernandez Buey apresenta em “Marx sem ismos” justamente o que propõe o título: uma análise das idéias do pai do comunismo de acordo com o mundo onde viveu, sem interpretações distorcidas ou adaptadas para a realidade do século XX.

Me parece que este livro agrada a qualquer tipo de leitor, pois me foi recomendado por um professor universitário muito fera em marxismo, e eu, que tenho conhecimentos limitadíssimos sobre o assunto, também achei excelente. O autor apresenta as idéias de Marx de forma cronológica, analisando paralelamente os momentos da vida do pensador, e como estes influenciaram seu pensamento e sua produção. Uma biografia intelectual, escrita de forma simples e descontraída.

Em “Marx sem ismos”, temos à disposição os principais preceitos marxistas bem elucidados, sem erudição acadêmica extrema, mas num nível acima de livros da série “ em 90 minutos”. Sempre tive medo de encarar um Marx na frente, não por si só, mas por causa de sua influência básica, o filósofo Hegel, que está para a filosofia assim como o Tiamat está para a Caverna do Dragão. Eu não pegava os liros de Marx porque achava que antes tinha que entender Hegel, e desistia. Com esta leitura clara pude conhecer melhor os conceitos de mais-valia, alienação e tudo mais que se tem direito, com exceção do tal do materialismo, única parte que nem assim entendi, mas talvez um dia eu entenda. A leitura começa com um Marx jovem, absorvendo suas influências, e termina com sua obra definitiva, porém inacabada: O Capital. Nesse meio tempo, o Manifesto Comunista, o apoio de Engels, as dificuldades financeiras e tudo mais.

Interessante é a análise do autor sobre questões como “Marx era anti-semita?”, “Marx era totalitarista?”, todas elas respondidas de acordo com a realidade de sua época, e não com os olhos do século XXI. O último capítulo ainda se chama “Dez respostas sobre Marx e os marxismos”, entre elas “O que significa ser comunista, hoje?”. Excelente livro, nota 10, recomendado para todos que desejam conhecer esse conjunto de idéias que não podemos afirmar com clareza se fizeram mais bem ou mal para a humanidade, mas que com certeza o mundo não seria nem um pouco parecido com o que conhecemos hoje se não tivessem existido.

Editora: UFRJ
Páginas: 257
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *

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