segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Tigre de Sharpe - Bernard Cornwell


Após ler a excelente série "As crônicas de Artur", fiquei curioso para conhecer melhor o trabalho de Bernard Cornwell. Tratei de comprar "O tigre de Sharpe", primeira aventura de Richard Sharpe, então recruta do exército britânico na Índia, com a missão de derrotar um monarca muçulmano que emperra os negócios do Império Britânico no subcontinente.

A saga de Sharpe é a mais volumosa das obras de Bernard Cornwell, contendo até o momento 21 livros e 16 produções para a tv inglesa, e conta a vida e as aventuras de Richard Sharpe, que inicia sua carreira enfrentando inimigos dos ingleses na Índia em 1799 e chega a derrotar o exército de Napoleão em Waterloo, em 1815. Resolvi começar a acompanhar as aventuras de Sharpe pelo primeiro volume cronológico – originalmente, a série não foi lançada na ordem exata dos acontecimentos, mas no Brasil optou-se por seguir a cronologia das histórias. Juro que tentei ler o livro sem compará-lo com a trilogia arturiana, já que me fora avisado previamente que “As crônicas” era o melhor trabalho de Cornwell, mas não consegui resistir à tentação.

“O tigre de Sharpe” é um bom livro de aventura, mas nem se compara às “crônicas”. A marca de Cornwell é perceptível: anti-heróis com defeitos humanos, situações limites com saídas surpreendentes e inimigos de diversos naipes. Alguns deles são sacanas, covardes e traiçoeiros (tem um sargento que exerce a mesma função do bispo Sansum das “crônicas”, características idênticas, até imaginei a mesma voz para eles dois), mas outros capazes, corajosos e honrados. Como fez com Aelle nas “cônicas”, Cornwell banca o advogado do diabo com o comandante Gudin, oficial francês que auxilia os muçulmanos contra os ingleses, e até com o próprio sultão Tipu, mostrando-os como excelentes inimigos, o que é interessante, pois valoriza a vitória do protagonista. O estilo descritivo cáustico do autor também está presente aqui, mas parece que não surte o mesmo efeito com canhões e fuzis; a meu ver, Cornwell é mais feliz com decapitações e eviscerações do que com tiros e explosões. E, como em todos os seus livros, o autor termina com uma interessantíssima nota histórica. Em alguns livros, a imaginação do autor exerce quase toda a função de criação de cenários, personagens e situações, mas neste caso, antagonicamente, Cornwell afirma que em quase todo o livro foi seguida a veracidade histórica dos acontecimentos, incluindo os personagens.

Este primeiro volume da série “As aventuras de Sharpe” me agradou como entretenimento, mas não me fez ter vontade de terminar de ler o mais rápido possível como “As crônicas de Artur”, já que a estória não tem reviravoltas mirabolantes, nem acontecimentos surpreendentes, e ademais os personagens não são muito cativantes. Desde as primeiras páginas já se tem uma idéia de como o livro vai terminar, e fora isso existem muitos furos na narrativa. Não vou citar a maioria deles sob o risco de estragar a leitura de alguém, ainda mais porque não são muitas as surpresas guardadas nas 400 páginas do livro, mas uma pelo menos eu acho que posso contar (afinal, com este título e com as passagens logo no início do livro, quem não suspeita que Sharpe enfrentará tigres?): mesmo com muito esforço imaginativo, não consegui conceber como alguém pode dar um tiro na boca de um tigre saltando em sua direção e depois rolar por debaixo dele. Há também uma parte que, para um personagem, um certo cadeado é um ferrolho que só pode ser aberto com vários tiros, enquanto para outro o mesmo cadeado é frágil e facilmente aberto. Coisinhas pequenas que não interferem no andamento da narrativa, mas que não passam despercebidas.

Pelo que li em uma página da internet, entendi que esta aventura de Sharpe foi escrita depois do andamento da série, como um conto do passado do protagonista, e me pareceu uma criação pressionada pelo sucesso da série de tv, me dando a impressão que eu vou apreciar mais as aventuras anteriores. “O tigre de Sharpe” é uma leitura agradável, mas nada essencial. Se este tivesse sido o primeiro livro de Bernard Cornwell lido por mim, consideraria a possibilidade de ler outras obras do mesmo autor, mas não o acharia genial como ainda acho.

Editora: Record
Páginas: 402
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

Livro Digital

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